A arte marcial criada por uma mulher

A arte marcial criada por uma mulher 

arte-marcial-criada-por-uma-mulher! Esse sistema de arte marcial chinesa conhecido por Ving Tsun (Wing Chun), foi criado e desenvolvido por uma mulher. A sua fundadora recebeu o seu conhecimento de uma monja do monastério Siu Lan (ShaoLin).

Mas qual seria o impacto detas afirmações para o desenvolvimento deste estilo de kung fu?

Para responder a essas perguntas Grão-Mestre Leo Imamura ira compartilhar a sua experiência com o falecido Patriarca Moy Yat.

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Ao ser aceito na Família Moy Yat, uma das primeiras perguntas que fiz ao Patriarca Moy Yat foi sobre a fundação do Sistema Ving Tsun.

Afinal, a figura da nossa Fundadora Yim Ving Tsun é histórica ou lendária? Vendo que eu ainda era um bebe no mundo do Kung Fu, o Patriarca tentou explicar no limite do meu entendimento na época.

A conversa que quero discutir com você é sobre a evolução deste entendimento na minha jornada na Vida Kung Fu. Ao atribuirmos à Fundadora Yim Ving Tsun a elaboração da listagem dos domínios que compõem o Sistema Ving Tsun (Wing Chun), estamos preservando uma longa tradição de 4.500 anos, quando Wong Tai, o Imperador Amarelo, recebeu um livro de caráter estratégico de uma exótica figura feminina. Mas qual o impacto desta passagem, onde a natureza do feminino orienta um monarca na arte da estratégia?

O Imperador Amarelo foi o mais proeminente dos monarcas de sua era. Era também conhecido como o Imperador do Meio. Ao enfrentar Chi Yau – adversário que representava a violência com poder e força incomparáveis – ele, inicialmente, sofreu pesadas derrotas, mas tornou-se invencível após valorizar e respeitar uma figura feminina fazendo uso do que dela recebera.

Essa figura feminina era Yun Nui, em que yun pode significar profundo, negro, oculto, enquanto nui representa a figura feminina, a mulher. Observem que enquanto a descrição da figura não deixa dúvida que é feminina, por outro lado ela não se caracterizava como mulher, pois tinha corpo de pássaro. Parece que o texto nos deixa uma mensagem que a feminilização está nas características de natureza considerada feminina pelos chineses e não uma referência ao sexo feminino enquanto gênero.

O Imperador Amarelo não só foi protagonista da revolução no plano simbólico da guerra como também a ele atribui-se a autoria da obra Wong Tai Sei Ging, conhecido como “Os Quatro Cânones do Imperador Amarelo”, nos quais reforça a valorização da conduta feminina.

Essa obra defendia que a eficácia se ocultava sob à máscara da delicadeza e da fragilidade apresentada pela atitude feminina. Contudo a feminilização da guerra só foi consagrada por Son Ji, cerca de 2.000 anos depois, através da obra conhecida hoje como “A Arte da Guerra” (Son Ji Bing Faat), na qual a eficácia da guerra estratégica é consagrada no campo do feminino. Doutor Albert Galvany, na sua introdução da obra El Arte de la Guerra, discorreu sobre a nova ordem no Período dos Reinos Combatentes (475-221 a.C.), em que destacou a Feminilização da Guerra como aspecto relevante na inversão dos valores guerreiros consagrados no Período das Primaveras e Outonos (722-403 a.C.). Esses foram os períodos que antecederam ao estabelecimento do império chinês em 221 a.C..

Ainda que a guerra continuasse a ser assunto de domínio masculino, as novas qualidades de um estrategista passaram a pertencer ao domínio do feminino, como a percepção, a moderação, a sustentabilidade da excelência, a antecipação, a intuição, a “não-ação”, a flexibilidade, a sutileza e a capacidade de lidar com a escassez de recursos, dentre outras. Parece-me que os mestres de Ving Tsun (Wing Chun) desejavam fazer deste sistema um representante maior dessa tradição. Manter esse legado é um compromisso primário daqueles que atribuem sua ascendência à Fundadora Yim Ving Tsun.

 

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